Pt:Entrevista com Universidade Federal Fluminense
- Educação e percepção dos desastres: entrevista com a Profa. Dra. Monika Richter, do Instituto de Educação de Angra dos Reis, da Universidade Federal Fluminense, Brasil
- Por Dra. Raquel Dezidério Souto(*)
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Monika Richter é mestra e doutora em geografia pela UFRJ, na área de concentração Planejamento e Gestão Ambiental, com estágio pós-doutoral em geografia. Atualmente, é professora associada IV do Departamento de Geografia e Políticas Públicas do Instituto de Educação de Angra dos Reis da Universidade Federal Fluminense (IEAR-UFF); docente permanente do Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGGEO-UFRRJ); e docente colaboradora do Programa de Pós-graduação Profissional em Gestão de Biodiversidade em Unidades de Conservação. Também é pesquisadora do Grupo de Estudos da Baia da Ilha Grande (GEBIG-UFF); do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Turismo da UFRRJ (NEPET) e do Observatório Sustentável e Saudável da Bocaina (OTSS-FIOCRUZ). Monika concedeu gentilmente uma entrevista ao YouthMappers UFRJ, em comemoração pelos seus dois anos de funcionamento, sobre alguns aspectos relacionados à educação voltada à conservação ambiental e à percepção dos riscos de desastres no Brasil.
🎉 YouthMappers UFRJ - Como professora da UFF Angra dos Reis, qual a sua visão sobre o interesse dos estudantes por temáticas como a redução de riscos de desastres ou a crise climática? Observou algum aumento ou diminuição no interesse?
Monika - Percebo um aumento no interesse dos estudantes, especialmente, em um contexto em que esses assuntos estão cada vez mais presentes nas discussões sociais e acadêmicas. Muitos são os alunos que se mostram mais engajados e conscientes sobre a importância dessas questões, influenciados pelas ocorrências na região, causadas por esses eventos climáticos extremos e pela crescente cobertura midiática. Em Angra, especificamente, está em andamento o Plano municipal de redução de riscos (PMRR), coordenado pelo Prof. Dr. Anderson Sato (IEAR-UFF), o que tem ampliado também o debate sobre a questão junto ao nosso alunado.
🎉 YouthMappers UFRJ - Como a percepção ambiental pode ajudar na conscientização dos residentes das áreas onde ocorrem frequentemente os desastres naturais em Angra dos Reis? Você considera que a educação ambiental crítica pode auxiliar na compreensão sobre a vulnerabilidade de certas localidades, que as tornam impróprias para a habitação?
Monika - Quando se tem uma compreensão mais profunda sobre o meio ambiente e os riscos associados, as pessoas se tornam mais aptas a reconhecer os sinais de alerta e a importância de medidas preventivas. Isso pode levar a uma maior participação em iniciativas comunitárias e a um comportamento mais responsável, em relação à ocupação em áreas inadequadas. Por outro lado, quando não possui alternativa com relação à sua moradia, o que se observa é a negação. Vide matéria na Ciência Hoje que se desdobrou de uma dissertação desenvolvida no PPGGEO-UFRRJ[1].
Com relação à educação ambiental crítica, certamente desempenha papel crucial nesse processo. Ao promover uma análise reflexiva sobre as condições socioambientais, essa abordagem permite que se entenda não apenas os riscos imediatos, mas também as causas estruturais, que tornam certas áreas vulneráveis. Isso inclui discutir questões, como urbanização desordenada, desmatamento, uso inadequado do solo e vulnerabilidades em diferentes dimensões.
Com essa compreensão, a população pode se tornar defensora de políticas públicas, que priorizem a segurança e a sustentabilidade, além de tornar-se mais dispostas a colaborar em ações de mitigação e adaptação. Portanto, a educação ambiental crítica, não só forma e informa, como empodera as comunidades a tomarem decisões no sentido de cobrarem seus direitos junto ao poder público, além de serem mais conscientes sobre onde e como viverem, contribuindo para a redução da vulnerabilidade a desastres naturais.
- 🎉 YouthMappers UFRJ - Como a manutenção e a criação de novas unidades de conservação contribuem para a redução dos riscos de desastres naturais ou tecnológicos?
Monika - As unidades de conservação (UC) preservam ecossistemas e espécies, que são fundamentais para a resiliência ambiental. Ecossistemas saudáveis, como florestas, manguezais, restingas, dentre outras, atuam como barreiras naturais contra desastres, como as enchentes e os deslizamentos de terra. Além disso, ajudam a regular o clima local, contribuindo para a mitigação de eventos climáticos extremos. Florestas, por exemplo, atuam na absorção de carbono e na manutenção do ciclo da água, o que pode reduzir a intensidade de inundações ou de escoamento superficial. Também ajuda a estabilizar o solo, prevenindo a erosão e os deslizamentos de terra, especialmente, em áreas montanhosas ou com declives acentuados.
Novas unidades de conservação podem promover a recuperação de áreas degradadas, restaurando a funcionalidade dos ecossistemas e aumentando a sua capacidade de absorver impactos de desastres. Também servem como espaços para a educação ambiental, assim como para as práticas sustentáveis, dependendo da categoria de manejo.
Comunidades que vivem próximas às UC podem se beneficiar de serviços ecossistêmicos, como a provisão de água limpa, a paisagem verde, a amenização climática, o ar mais puro e a proteção contra desastres, elevando a capacidade de se recuperar de eventos adversos.
- 🎉 YouthMappers UFRJ - Qual o papel da Academia e, especificamente, das universidades públicas, no enfrentamento da crise climática?
Monika - Podemos citar pelo menos três principais frentes de atuação:
- Formação: inclusão e ampliação das temáticas relacionadas nos espaços de diálogo; e disseminação do conhecimento, com a promoção de eventos, palestras, cursos etc;
- Extensão: levar o conhecimento científico e tecnológico para comunidades locais, auxiliando na construção da resiliência climática e na gestão de riscos. Participar e promover debates públicos, de modo a aproximar a academia da sociedade; e a participação de conselhos e outros espaços de decisão; e
- Pesquisa: investigação e proposição de soluções, modelagem de cenários e avaliação de impactos, desenvolvimento de tecnologias voltadas à minimização, redução e gestão de risco.
- 🎉 YouthMappers UFRJ - Qual a importância do envolvimento de adolescentes e crianças nos projetos de educação ambiental e em outros tipos de projetos com participação da comunidade?
Monika - Por serem os agentes de mudança, ou seja, da educação voltada para o futuro, é fundamental que desenvolvam uma consciência crítica sobre os problemas ambientais e sociais, tornando-se cidadãos mais engajados e responsáveis. Também são potenciais multiplicadores de conhecimento, influenciando suas famílias, amigos e comunidade a adotarem práticas mais sustentáveis e a participarem de ações coletivas, o que estimula o trabalho em equipe, a comunicação e a busca pela resolução de problemas.
Como citar esta entrevista
(*) Educação e percepção dos desastres: entrevista com a Profa. Dra. Monika Richter, do Instituto de Educação de Angra dos Reis, da Universidade Federal Fluminense, Brasil. Entrevistada: Telma Mendes da Silva. Entrevistadora: Raquel Dezidério Souto. Rio de Janeiro: IVIDES.org, GeoCart-UFRJ, 12 mar. 2025. Disponível em: . DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.15022517.
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Referências
[1] https://cienciahoje.org.br/artigo/tem-risco-mas-na-minha-casa-nao/
[2] CV Lattes da Profa. Dra. Monika Richter - http://lattes.cnpq.br/9435685314161200
[3] LEU, M. V. de S. A geoinformação na gestão de risco de base comunitária: uma análise a partir do quilombo Santa Rita do Bracuí-RJ. In: Jornada de Geotecnologias do Estado do Rio de Janeiro, 7., 2024, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro: Editora IVIDES, 2024. p. 116-123. DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.15022517.